17.3.05

vestígios

e tudo sucede...

é como os dias que seguem enferrujados e envoltos pela melodia que acompanha cada passo, um após o outro, cada passo. A mente não pára de cantar todas as vozes e ritmos. É uma certeza infiltrada pelo medo. É nicotina de um cigarro que valha entre os dedos. Um drum'n'bass na sala e soluços no quarto. Um choro: lágrimas. Uma porta se fechou. Um dia se cansa de querer algo, um dia se cansa mesmo. As repostas não chegam nunca, não chegam. Solidão em meio a um conjunto de vozes ocas, sacrificadas pelo excesso. Um cheiro, cheiros, chega de tudo isso. Eu quero um achego, um tom, uma sala escura e um violão. Quero cantar, meu amor. Eu quero. Tire os sapatos, sente aqui e me espere, um dia eu volto e te faço voar e então tua impressão será de vida. Estava te lendo e me perdi na décima linha da página vinte e nove. Tanta dissonância, tanto sentimento guardado em um copo de vidro que se quebrou. O silêncio acabou. Estou na décima primeira linha e agora existem guardados no armário as vozes e os medos - Por que não sai daí? Eu te bebo e deixo escorrer entre os lábios todo o teu gozo que cai no teu dorso, no teu colo, no meu sonho. Tenho todas as tatuagens espalhadas pelo corpo, me queimando, ardendo, me revelando mulher porque eu sou tua, vida. Existe uma distância entre o mistério e a revelação. Essa distância sou eu e me basto por isto. Não digo mais nada, meu segredo é egoísta, sinto muito. Me disseram que o ser humano perfeito é desinteressante. As imperfeições é que te chamam a atenção, porque você é ferido pela dor de ser igualmente imperfeito. São relatos de experiências, são mitos, são amores, que te apanham lá no fundo de você mesmo. É complicado, sabe. Talvez todas as respostas estejam guardadas num único sentido: existir. Preciso parar um pouco, seguir com calma, deixar isso aqui escoar naturalmente, para que eu possa voltar e ser lua, nova-mente. Por enquanto ficarei a espreitar os espetáculos de vida e se nada acontecer continuarei na melodia, acompanhando cada passo dos dias enferrujados e supostamente cheios de... eternidade.