dá-me tua essência
É que podiamos enganar o peito nosso que arde por medo e que nos faz chorar dessa forma tão por dentro. Não somos pela metade como os que nos querem pelas costas, nem parecidos com a vida tilintante que se assemelha ao ódio de cada desejo não consumado desses tais outros que tu tens, por obrigação, que engolir como gema de ovo podre. Podíamos também sorrir ao léu e brincar de viver assim tão fácil. Mas a delícia que se chama essência [palavra mais linda e abrangente que já ouvi: essência] tem o dom de nos fazer humanos e dessa forma sentimos o mundo passando por entranhas, veias, tranformando-se em nosso próprio sangue diário, aquele sangue que nos chama para a lucidez. Essa que nos regula o olhar, nos regula toda a tenacidade e que vive a nos ensinar coisas sem nenhum sentido material. Essa mesma que é o travessão e o ponto final de nossa fala. E essa é a coisa mais nossa que vejo passar por entre meus dedos e meu peito quando durmo e quando acordo sem te dizer da minha felicidade. Tal felicidade que mora junto de todos os meus sonhos lúdicos, sonhos maiores que minha própria sorte de ser mulher. Amo-te, é o que quero contar. Te fiz dentro de mim a vida toda, tu sabes. Meu segredo? É te amar para sempre. Meu desejo? É viver de liberdade. Minha morte? É não poder te ouvir sorrindo.