8.12.04

grama verde

era uma grama tão suave e verde que teve medo. Sentou sobre os pés pensando, calculando cada hora gasta pelo suor de um pensamento sem qualquer domínio. Lembrou das mãos geladas de ambas, do sorriso frenético e vadio. Conteve-se a apenas sentir a brisa, as copas e cada flor amarela-vermelha que cantavam ao seu redor. Abriu, como se abrisse um livro, seus sonhos amanhecidos e sentiu a presença súbita de um desejo. Deteve a angústia do tempo passado, de cada toque, de cada fagulha de todo aquele incêndio que as manteve vastas naquela cama, ontem à noite. Sentiu que algo havia mudado para sempre e esperava aflita pelos próximos dias de mudança e amadurecimento. Sorriu, porque queria muito o reconhecimento que veio num objeto. Algo que só ela poderia saber o significado. A grama verde, sua confidente, deslizava úmida sobre sua pele trazendo para o ar o cheiro de terra doce e orvalhada.

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